TONY ALLEN: DIFERENTE, DIFERENTE, DIFERENTE

Quando Fela Kuti buscava para si, em fins dos anos 60, um som novo, potente, intenso, que fosse totalmente africano mas que incorporasse a pegada moderna transcontinental da soul music, um elemento fez toda a diferença: a bateria de Tony Allen. Nascia do encontro das músicas e ideias de Kuti com o ritmo de Allen o afrobeat, que apareceu no centro de São Paulo, na rua, de graça, a céu aberto, nas presenças de Ebo Taylor, Seun Kuti, e, em pessoa, Tony Allen. Diretamente de Moema, véspera do show, conversei brevemente com a grande figura nigeriana de 72 anos, papo abaixo.


Eu já tocava antes de conhecer Fela. Eu tocava high life jazz, era como chamávamos na época. Afrobeat foi uma transição de nome, simples assim. Amo jazz, mas estávamos criando algo novo. Fela estava escrevendo e eu estava tocando.
Eu tocava de acordo com o que estava escrito na minha frente. Ele nunca escreveu pra mim ou me disse como eu deveria tocar. Ele dizia para todos, mas não pra mim. Fela escrevia as músicas, e minha bateria era a última coisa a entrar, eu criava em cima.
Art Blakey era meu ídolo. Max Roach também, todos esses caras. É, ouvi muito eles. Ouvi muita música, sabe? Mas o que eu sempre quis foi ser eu mesmo, encontrar minha música, juntar as coisas. Então, seja o que for, eu tive influências de todos os lugares, as juntei, e isso se tornou o que estou fazendo.
Eu nasci dentro desse ritmo. Quando decidi estar tocando ritmos, busquei o que estava dentro de mim. Mas não sou preso a nenhum beat em particular. Se você ouvir meus discos, verá: diferente, diferente, diferente, os movimentos são todos diferentes. Eu só tentei seu eu mesmo.
Eu não digo, “é, estou trazendo uma particularidade e é isso”. Quando estou escrevendo, estou escrevendo algo que não estava lá. Então, meus padrões de bateria não tem limites, não há limitações.
Não sou particular a tocar somente afrobeat. Sou um baterista e um músico. Toco para a música. Eu me relaciono a música do jeito que ela vem pra mim. Quando criamos, estamos criando.
Nunca tentei fazer jazz ou funk, não. Quando estou criando meus padrões de bateria, estou atrás de algo novo, e aquilo sou eu. E aonde eu vou essa música vai comigo, porque ela vem do meu espírito.

(Maio de 2012)