MÚSICA LIVRE

Você pode ouvir o disco online, baixar em MP3, comprar o LP ou ir ver ao vivo. “As pessoas estão ouvindo e assistindo música como nunca”, diz Cuca Ferreira, da big band paulista Bixiga 70. Desde que lançaram seu primeiro álbum, há pouco mais de um ano, a elogiada banda de afrobeat de dez integrantes tem feito shows frequentes, chegou a concorrer (por melhor capa) no Grammy Latino e o disco, Bixiga 70, gravado com os esforços de seus próprios membros, foi lançado em CD, vinil e online. “Nunca se viu tanta produção tão boa, e nunca foi tão viável fazer o trabalho chegar ao público”, nota ele. “Todas as barreiras de entrada caíram, e hoje em dia artistas de todos os tamanhos tem os mesmos canais para fazer o trabalho chegar ao público. Não consigo imaginar um cenário mais favorável à produção artística.” Você pode ver ao vivo, comprar o disco ou simplesmente sair clicando para ouvir.

Eles não são uma exceção. Hoje, com naturalidade, toda uma geração contemporânea brasileira disponibiliza seus discos online ao mesmo tempo em que vai aprendendo como valorizar sua produção, custear sua obra, divulgar seu trabalho, descobrindo e gerando ofertas e demandas. Artistas como Tulipa Ruiz, Curumin, Karina Buhr, Lucas Santtana, Thiago Pethit, Anelis Assumpção, Gui Amabis, BNegão, Metá Metá, Criolo, Andreia Dias, Marcelo Jeneci e o Bixiga 70, para citar um punhado com centro gravitacional em São Paulo, entre incontáveis outros pelo país, colocam seus álbuns mais recentes para baixar ou ouvir gratuitamente em seus próprios sites, em plataformas como SoundCloud e Bandcamp ou através de blogs especializados.

Desde final do século passado, toda a engrenagem industrial do mercado musical vem passando por intensas transformações, como o surgimento e disseminação de novas tecnologias, em sua maior parte gratuitas, como os arquivos MP3s, as redes de compartilhamento destes arquivos, mecanismos torrents, sites de armazenamento de conteúdo, ferramentas de publicação online – tudo à disposição de quem quisesse dividir com os outros suas canções e discos favoritos. A era pós-industrial atingiu toda a indústria do entretenimento, mas o braço da música foi quem mais sofreu, especialmente as grandes gravadoras multinacionais, as chamadas majors, que sofreram um declínio em todas as etapas de seu antigo negócio, ao mesmo tempo em que rapidamente se aperfeiçoavam ferramentas baratas e caseiras de produção que diminuíam a distância entre amadores e profissionais.

A era digital é referida como pós-industrial porque seu modelo confronta de frente com aquele que vinha sendo desenvolvido até o final do século 20. O processo industrial é baseado na repetição. Se sua função é formatar e embalar, ela só faz isso pois trabalha sua essência primordial da regra da máxima produção – o que, para produtos em geral, funciona muito bem (ou pelo menos até agora, antes da popularização das impressoras 3D). Conteudo, no terreno da arte, a venda do produto (por exemplo, o disco) está associada ao conteúdo (a canção) e para atingir este pico de produção, busca-se o mínimo denominador comum do interesse do público – seja pela fórmula, pela criatividade, ou, comumente, algum equilíbrio entre os dois. Pesquisas e estudos ainda não conseguiram decifrar a inconstância idiossincrática que torna possível a qualquer ser humano a criar ou apreciar arte, daí a opção pela solução mais simples.


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Tulipa Ruiz, que lançou há pouco seu segundo disco, Tudo Tanto, encontrou interesse considerável do público por CDs desde seu primeiro álbum, Efêmera – ambos lançados de forma independente e gravados em parcerias; o primeiro com a gravadora-estúdio YB e o segundo através de edital da Natura.

“Os modelos antigos não se aplicam mais”, explica a cantora, falando de sua própria experiência. “Antigamente, quando dependíamos de distribuidoras, o artista ganhava menos mas vendia muito mais. Então pensei, “dentro disso eu não tenho nada a perder, já estou perdendo com essa relação, vou dar um jeito de distribuir sozinha”. Comecei a levar eu mesma nas lojas, fiz o email discodatulipa@gmail.com pra vender direto pra quem queria e prensei 20 mil “Efêmeras” na unha. Aos poucos eu fui entendendo que precisava me estruturar e que poderia fazer isso sozinha se eu tivesse uma equipe. Hoje em dia isso tem acontecido e a gente está feliz da vida: é tudo entre eu e e loja, eu e a pessoa que está comprando o disco, sem intermediário. Alguns anos atrás isso seria impossível, a internet aproximou tudo.”

“Cada um tem descoberto suas fórmulas e possibilidades, pois a coisa toda tende a ser cada vez menos homogênea”, opina Lucas Santtana, que realizou seus discos recentes às próprias custas – o último, O Deus Que Devasta Mas Cura, com apoio do Estado da Bahia. “Claro que ainda existe uma distância em relação aos artistas chamados mainstream”, continua. “Mas você muda o tamanho da escala e já está tudo igual em termos de business. A pergunta é se essa geração faz uma música para esse grande mercado ou se ela está formando um novo público. Outra pergunta é se o grande mercado na verdade não passa de uma imposição de uma máfia que dita o que vai ser popular.”

O rapper paulistano Emicida, intenso adepto do faça-você-mesmo em praticamente toda a escala de produção, já alcançou altos números com seus lançamentos, com estimativa de mais de 500 mil downloads e 70 mil cópias de suas duas mixtapes e dois EPs, conseguidos em shows, pelo seu selo e loja virtual Laboratório Fantasma, pelo iTunes, e amplamente encontrados por blogs e fontes extraoficiais. “Minha vitória não será a falência de qualquer multinacional que gerencie música”, decreta ele. “Minha vitória será os artistas aprenderem que podem trilhar seu caminho e essas corporações passarem a ser vistas como opções, não como obrigações.”

“A grande verdade é que hoje a indústria musical flutua no limbo – principalmente os artistas, que são o lado mais fraco da corda” avalia. “Estamos longe de uma estabilização enquanto seres humanos, a indústria musical é apenas um detalhe, não estamos capacitados para lidar com 100% dos recursos que a tecnologia oferece em boa parte dos segmentos onde ela se mostra disponível. A música é mais um desses segmentos e ambas continuaram a evoluir, indiferentes à nossa capacidade ou possibilidade de vender ou comprar algo e obter lucro com isso.”

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Então, ser independente é uma atitude política ou consequência do estado das coisas? “Tanto faz”, diz Cuca, do Bixiga 70. “O próprio conceito de “independente” caiu por terra, na medida que a opção “dependente” não existe mais. O que eu vejo é novamente a música como manifestação de ponta inaugurando um novo modelo. Foi assim com a digitalização, a música foi a primeira arte a virar digital. Agora novamente, é a primeira arte a se assentar a partir de relações fragmentadas e individualizadas com o público. E usando isso a favor do modelo mais antigo de manifestação artística, que é a apresentação ao vivo. Se isso é político, não sei.”

No encarte do mais novo CD de Thiago Pethit, Estrela Decadente, ele escreve: “Este disco é 100% independente: independente de patrocínio, independente de edital, independente de gravadora, independente de selo e independente do gosto de quem ouve.” Conjunção rara de liberdade. Quantos discos poderiam ter esse selo?

“Ser independente hoje serve mais como slogan do que como um fato”, comenta Pethit. “Até anos atrás, era uma definição para quem não estava assinado com uma gravadora. Para quem não tinha o suporte financeiro das majors, a assessoria, o marketing e a construção de imagem, os jabás, os estúdios que elas ofereciam e por aí vai. Mas as gravadoras não funcionam mais assim. Agora, é mais importante estar vinculado a um bom empresário do que a um selo que muitas vezes só vai cuidar da tua distribuição. Um bom produtor pode te ajudar na inscrição para um edital e conseguir o dinheiro que antes vinha da gravadora. Uma agência especializada pode ter bons contatos e te colocar para cantar numa premiação de música, ou na festa de uma revista de moda, e cumprir a função do marketing e imagem do artista. Mas grande parte ainda diz: somos independentes. Então, fica a minha pergunta: independente de quê?”

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Dez anos atrás, a Associação Brasileira dos Produtores de Discos certificava disco de ouro para artistas que vendiam 100 mil discos, disco de platina para aqueles que chegavam a 250 mil e diamante para os grandes artistas que chegavam a um milhão. Hoje, tudo menos da metade, discos chegam a ouro, platina e diamante vendendo, respectivamente, 40, 80 e 300 mil discos. Se em 1999 o mercado brasileiro chegava a vender 87 milhões de CDs, em 2003 já eram 52 milhões e, nas últimas medições da ABPD, em 2010 e 2011 chegamos a 18 milhões por ano. O mercado de música gravada encolheu? 

Ou esterá migrando de vez para os meios digitais, levando produtores, consumidores, plataformas e rentabilidade? Em ascensão ano-a-ano, as receitas digitais em 2011 já chegavam a 16% do mercado no país, enquanto CDs encolhiam para representar 53%. Se em pouco tempo podemos ver o formato CD equivaler a menos da metade da maneira como consumimos música, falta de medições precisas e unificadas sobre downloads no Brasil nos impedem de enxergar se podemos estar vivendo a vanguarda da música online.

“Download gratuito tem que ser estratégico, num país continental, cuja logística que envolve o CD está sem sombra de dúvidas falida”, calcula Lucas Santtana. “O suporte CD ficou obsoleto justamente porque compete com o download digital. Já o vinil, que nunca competiu, esse sim, virou mercado de nicho. O disco ainda é um produto relevante, o suporte CD é que não.”

“Minha prima de 13 anos nunca comprou CD e acho que nunca vai comprar música no iTunes”, observa Tulipa. “Ela só ouve música em streaming, no YouTube, em baixíssima resolução, e não paga por isso. Mas ela paga pra ir no show. Eu, como uma pessoa que atuo no mercado da música, não posso ignorar esse perfil. Como vou conversar com essa menina? Vejo o download como um começo de relação. Meu jeito de estar presente é: Quer baixar de graça? Está lá. Quer ouvir em streaming? Ok. Quer comprar o vinil? Vou fazer vinil. O perfil hoje é híbrido. E tem gente para consumir em todos esses lugares.”

Segundo recente estudo da empresa norteamericana de medição Nielsen SoundScan, a principal plataforma de audição de música hoje é o YouTube, com 64% dos 3000 adolescentes americanos entrevistados listando o site como primeira opção para ouvir um som. Enquanto isso, o vídeo mais vídeo na história pelo site, “Gangnam Style”, do coreano Psy (mais de um bilhão de views), gerou oito milhões de dólares de rendimentos pelo YouTube, segundo o Google. Os caminhos, fontes, maneiras e plataformas podem ter mudado radicalmente, mas ninguém pode dizer que no mercado da música não tem circulado dinheiro.


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“Me parece que estamos em crise e em plena mudança ao mesmo tempo” opina Thiago Pethit, que soma mais de um milhão de views de seus vídeos no YouTube. “Houve uma grande mudança de paradigmas com o surgimento da internet, que levantou uma série de perguntas. Muitas delas ficaram sem uma resposta concreta, como por exemplo: com a queda das vendas, de que forma os discos vão passar a ser pagos? Dúvidas que acabaram atropeladas por outras inúmeras mudanças menos significativas, porém mais e mais frequentes. A cada novo gadget que é inventado, sistema de streaming ou de ideia estrutural, seja de formato do som ou de capitalização, o mercado se reinventa em cima de novas possibilidades. Existem novas soluções, mas elas estão longe de servirem como um padrão ou uma fórmula para serem seguidas. Cada vez mais, cada caso é um caso, cada artista cria a sua fórmula, cada mercado e cada nicho, precisam de um tipo de apoio específico e cada um vai enfrentar um tipo de dificuldade diferente do outro, dependendo do seu contexto.”

“Quando lancei meu primeiro disco, em 2003, não tinha muito MP3”, lembra Curumin. “A galera baixava disco a muito custo, no Limewire, coisas assim. Quando lancei o segundo, em 2008, já rolou uma revolução. Até então você só tinha aqueles disquinhos ali que você baixava, e não dava pra ser muito porque era difícil, e os discos que você comprava, mas que tinha um limite porque era caro. De repente as bibliotecas de música aumentaram em 20, 30, 40 vezes. Todo o esquema da música mudou. Ninguém mais conseguia segurar um disco numa gravadora, ela já não tinha mais exclusividade. E agora já mudou tudo, já virou outra coisa. Já não é mp3, já é o streaming, são outros veículos, é pelo YouTube, tem que ter vídeo, tem que ter imagem. A coisa parece que ainda vai se transformar, vai ficar mudando durante um bom tempo. Talvez nem estabilize. Se você pensar que a tecnologia se renova a cada cinco anos…”

Com quatro bilhões de horas assistidas mensalmente no YouTube em 2012, talvez a própria questão de MP3s e downloads já esteja ultrapassada. Em breve, com banda larga mais rápida e maiores espaços de armazenamento barateados e popularizados, talvez a diferença entre dar play e ouvir em streaming ou clicar em “baixar” seja irrelevante. E agora? Ninguém sabe, é claro. A música está livre e cada um faz com ela como acha melhor, cada produtor de arte chama pra si e bola seu jeito. Se antes havia apenas um caminho possível, ou poucos, hoje nascem tantas possibilidades quanto surgem artistas.

“Vejo que quem se organiza, estuda e trabalha consegue solidificar algumas coisas”, opina Emicida. “Artista precisa estudar se quiser viver da arte que produz sem os grilhões da indústria oficial. Estudar e trabalhar realmente por ela, além de pensar na criação artística somente. Caso discorde disso, o que não falta é chefe pra te fazer de escravo neste mundo.”

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DISTRIBUIÇÃO DIGITAL: “A FRAGMENTAÇÃO FOI DA RECEITA DAS MAJORS”

Emicida, Erasmo Carlos e Chitãozinho e Xororó estão entre os 10 mil artistas representados pela distribuidora digital ONErpm, que faz a ponte ao entregar conteúdo para lojas e serviços de música. “Só com a chegada do iTunes no Brasil, a gente dobrou o faturamento em um mês”, explica Juliano Polimeno, diretor de marketing. “Temos informações de que Spotify, Google Music e Amazon MP3 chegam ao Brasil no segundo semestre e nossa previsão é dobrar de novo.” Ele falou mais sobre as possibilidades e impossibilidades da independência digital hoje.
 
Ainda há dúvidas sobre o novo mercado musical digital ou as coisas estão ficando mais definidas?
As coisas estão ficando um pouco mais claras. A fragmentação de opções hoje é enorme, e estamos começando a entender que a fragmentação foi das majors, da receita que eles tinham. Agora essas fontes de receita estão começando a aparecer de forma mais clara, para todos. Isso está sendo dividido, mudou aquele funil único das gravadoras controlarem toda a infraestrutura da música, tando de ida como de volta do dinheiro.


As grandes gravadoras multinacionais continuarão poderosas?
Tenho uma ideia de que talvez elas permaneçam só cuidando desses hits de seis meses, singles de três meses. O trabalho destas majors é o de gerenciar grandes sucessos — e rápido, produzir rápido, soltar rápido. Elas não vão mais se meter com criação de carreira, cada vez menos, e isso vai ficar para o próprio artista, para a equipe que ele conseguir montar e também para os pequenos selos.


Um artista novo hoje já pode acontecer por conta própria ou precisará de outros meios?
Se você quer atingir um grande público, o trabalho será maior, pois você vai ter que descobrir onde está o cara que gosta da sua música — e não necessariamente você consiga em um canal só. Dá para tentar sozinho, mas sempre tem gente em volta trabalhando muito, pessoas que planejem e que também segurem as coisas quando acontecer.

Antes, como as empresas de distribuição física eram pequenas, o mercado independente não estava preparado para o sucesso. Se você vender 200 mil discos e ficar em uma estrutura independente, você não dá conta de fabricar, receber e entregar esses discos. Então o artista teria que dar o passo adiante, que pode não ser realmente um passo adiante, de ir para uma maior, que consiga manusear essa demanda. Mas se você pensar que cada vez menos se vendem CDs e cada vez mais a circulação digital fragmentada acontece, e que hoje você consegue cuidar de toda essa infraestrutura digital apertando um botão, tudo mudou.



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INDEPENDÊNCIA: “SEM GRAVADORAS, O MAINSTREAM SERIA MENOR

Completando 15 anos em 2013, a gravadora Deckdisc foi uma das empresas que melhor souberam sobreviver às intensas mudanças do mercado desde o advento do MP3. Liderada pelo homem de gravadora João Augusto e com artistas como Falamansa e Nação Zumbi no elenco, a Deck pode se gabar de real independência, pois independe de multinacionais nem tem subsídios de outras fontes que não música. “Outras independentes, que revolucionaram principalmente de 2001 em diante, não seguraram o rojão e desistiram do mercado."

A grande indústria musical errou na sua reação inicial ao download?
Embora tenha havido muito baticum no início, com duras acusações à indústria, destacando a de que ela não estava sabendo acompanhar o “fluxo da modernidade” ao combater o download e outras atividades digitais, acabou-se provando que ela tinha mesmo que defender a propriedade intelectual naquele momento em que todos achavam que tinham o direito de usufruir de graça qualquer coisa que caísse na rede. A indústria combateu o uso ilegal do conteúdo que, na verdade, pertencia a ela, aos artistas e aos autores e que tinha que ser monetizado, para a própria sobrevivência do mercado. Note que quem combatia e combate as defesas que foram criadas pela indústria e pelas maiores associações de proteção à propriedade intelectual do mundo era gente que queria bancar o Robin Hood, ao pregar uma ilimitada igualdade de acesso à arte. Todos pularam fora e hoje o mercado vai muito bem das pernas, monetizando em várias frentes, fazendo com que produtores fonográficos, artistas e autores recebam pelo uso do que é seu. Os primeiros que arrebentam os muros são sempre os mais ensanguentados — e sobrou para as gravadoras essa missão.

Como você vê o equilíbrio ideal hoje em dia entre gratuito e pago, físico e virtual?
Hoje, os rendimentos provenientes do digital são consistentes, as empresas integradoras desses materiais são sérias e profissionalizadas, e um novo caminho surgiu para a sobrevivência de quem produz música. Downloads e toda a malha de distribuição digital não são mais promessas, não geram mais dúvidas. Eles têm um salutar e definitivo papel na cadeia de remuneração da música. A distribuição digital e a venda de produtos físicos (CDs, DVDs, vinil) formam um alentador meio de sobrevivência.

O mercado hoje independe das grandes empresas multinacionais. Ser independente é a nova norma vigente?
Essa afirmação é contundente, cinematográfica, lembra os filmes que tratam das relações entre colonizadores e colonizados, mas carece de fundamento. Na verdade, os independentes que fizeram sucesso se valeram rigorosamente dos mesmos processos utilizados pelos colonizadores — opa, desculpe-me — pelas grandes gravadoras multinacionais. Quem não seguiu esse caminho ficou pelo canto chorando como o garoto de quem roubam a merenda na escola. O fato é que, para o bem ou para o mal, sem as grandes gravadoras não teríamos os grandes sucessos mundiais, todos os artistas do mainstream teriam tamanhos bem menores. Ser independente é muito bom, especialmente no meu caso, que estive dentro e fora das grandes companhias repetidas vezes, mas dá um trabalho danado. As armas são desiguais e a gente se sente como Leônidas lutando a batalha das Termópilas. Quando temos um sucesso, a vitória é bem saborosa. 



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UM SÉCULO DE MÚSICA GRAVADA
Como a tecnologia moldou o jeito que consumimos música nos últimos anos


(Revista Galileu, março de 2013)